Os protestos são realmente os principais responsáveis pela crise em Moçambique?

 

As dificuldades econômicas de Moçambique e o impacto dos protestos pós-eleitorais

Os desafios financeiros do governo moçambicano, especialmente em relação ao pagamento do 13º salário aos funcionários públicos, têm sido amplamente atribuídos às manifestações pós-eleitorais. No entanto, especialistas apontam que esses problemas já vinham de longa data.

Inicialmente, a administração anterior, liderada por Filipe Nyusi, havia declarado que não haveria condições para pagar o benefício, justificando a decisão com os impactos das manifestações. A Confederação das Associações Económicas (CTA) relatou que os protestos resultaram na paralisação de cerca de 40% do setor industrial, enquanto dados do governo indicam perdas de 42 mil milhões de meticais no último trimestre de 2024.

Contudo, o economista Egas Daniel argumenta que a crise financeira do país não pode ser atribuída exclusivamente às manifestações. Ele lembra que, desde a implementação da Tabela Salarial Única em 2022, o governo já enfrentava dificuldades para honrar seus compromissos salariais. Em 2022, o 13º salário não foi pago, e em 2023, o pagamento foi reduzido para apenas 30% do valor devido.

O analista político Aly Caetano reforça essa visão, destacando que o governo frequentemente busca justificativas externas para suas dificuldades financeiras. Ele menciona que, em diferentes momentos, crises como a guerra civil, a pandemia de Covid-19, o terrorismo e os desastres naturais foram usadas como explicação para a fragilidade econômica do país.

Além disso, os protestos trouxeram à tona informações antes pouco transparentes, como as receitas arrecadadas na fronteira de Ressano Garcia, que somaram cerca de 4,5 mil milhões de meticais em apenas três dias de bloqueio. Isso levanta questionamentos sobre a destinação desses fundos e a real capacidade de arrecadação do Estado.

Dessa forma, enquanto as manifestações podem ter agravado a crise, os problemas estruturais e a falta de produção interna continuam sendo os principais desafios da economia moçambicana.

Fonte: DW